domingo, 14 de março de 2010

Ausência

Ausência

Carlos Drummond de Andrade

Por muito tempo achei
que a ausência era falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo,
não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a branda, tão pegada,
aconchegada em meus braços
que rio e danço e invento
exclamações alegres.
Porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba de mim.


Quem me madou este poema foi minha Coach Cândida. Acho que ele representa bem o que tenho sentido, não só eu, mas todos em casa e na casa em que ela morava. Temos sentido muito sua ausência: quando saíamos de casa de manhã e a víamos no portão ou caminhando na rua e parávamos para dar bom dia e ela sempre alegria respondia. Quando ia na sua casa, ela sempre me oferecia alguma coisa pra comer. Quando ia me cumprimentar, sempre dava uns tapas seja no rosto ou nas costas e dava risada.


Tenho saudades das comidinhas dela: doce de abóbora, amendoim com chocolate, bolo de cenoura, bolinho de chuva, arroz branco temperado, pastel de carne. Tenho saudades da época em que passava férias no Ipiranga e fazíimos caminhadas no museu. Ela andava bem rapidinho!


Essa noite sonhei com ela, estámos com a Tia Dinha. Passeamos pela região do Ipiranga, como nos velhos tempos. No sonho eu já sabia que ela tinha partido, mas ela estava lá conosco. Estávamos todas muito felizes, mas eu não queria ir embora, ir dormir, porque tinha muito medo de acordar e ela não estar lá no dia seguinte. Fiquei perguntando pra Tia Dinha isso e ela me disse que estava preparada caso isso ocorresse. Acabei me despedindo, e disse que gostava muito dela, aí acordei. Um pouco antes, sonhei que estava sonhando e nesse sonho minha outra avó veio me visitar em casa, juntamente com minha tia Mitchan, lembro apenas que nos abraçamos bem forte.

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